O desenho infantil é um tema abordado
em muitos estudos, ao longo dos últimos anos, em função de sua importância.
Existem muitos trabalhos e livros que
buscam direcionar o trabalho do professor para uma prática que melhor
desenvolva as habilidades artísticas dos alunos bem como o gosto pela arte.
Segundo Galvão
Toda criança desenha. Mesmo que não seja
adequadamente instrumentada para tal, a criança pequena quase sempre encontra
uma maneira de deixar, nas superfícies, o registro de seus gestos: se não tiver
papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo na parede de casa; se não
tiver lápis, serve um pedaço de tijolo, uma pedra, ou uma lasca de carvão.
(1992, p. 53).
Apenas saber que o ato de desenhar é
importante, não basta. Além disso, o professor precisa entender quais propostas
são mais adequadas para a faixa etária com que trabalha, quais materiais devem
ser usados, como o desenho pode ser requisitado nas diferentes situações
ocorridas na sala de aula e principalmente que o registro produzido é fruto do
momento vivido pelo aluno, de acordo com suas vivências, repertórios e
oportunidades de expressão.
Para que possamos compreender melhor,
como o professor poderá fazer com que suas aulas de artes caminhem
paralelamente com suas demais aulas, apresento a seguir algumas ideias e
teorias que auxiliarão no conhecimento do processo de desenvolvimento da arte
na criança de 6 anos.
Ainda que os primeiros rabiscos feitos
pela criança pareçam aos olhos dos adultos, algo insignificante, sem sentido e
feito sem noção, é importante entender que toda criança está em processo de
desenvolvimento e que estes rabiscos são feitos com a intenção de explorar os
materiais oferecidos e é por meio desta exploração que suas marcas vão ganhando
formas e mais tarde serão possíveis de serem identificadas: casa, sol, carro,
etc.
Segundo Lowenfeld:
À
medida que a criança cresce, já não se satisfaz com a simples e fictícia
relação entre seu pensamento imagístico e o que desenha ou pinta.
(1954,
p.107)
Geralmente as crianças de seis anos
buscam fazer seus desenhos e pinturas de maneira que se aproximem do real. Esta
busca, no entanto, pode ser angustiante e frustrante, pois à medida que tenta
representar algum desenho observado e por não conseguir se aproximar do que
observou, a criança acaba incorporando o discurso de “Não sei desenhar”. Muitas
vezes este discurso é alimentado na fala de muitos professores que cobram
dessas crianças, desenhos que não pareçam ser produzidos pelas mesmas.
O contato com diferentes materiais
para realizarem seus desenhos, pinturas e a apreciação de outras produções
artísticas, tanto de artistas renomados como dos próprios colegas, podem
contribuir com o desenvolvimento das habilidades artísticas, pois assim os
alunos têm a possibilidade de ampliar suas ideias ao começar um novo desenho ou
pintura.
Hoje em dia por mais que falamos sobre
a importância de deixarmos às crianças explorarem o mundo artístico, deixarem
suas marcas no papel etc, notamos que quando é feita a exposição de alguns
desenhos feitos pelas crianças, este precisa ter uma “estética” que chame a
atenção dos apreciadores e isso faz com que muitos professores não aceitem o
desenho criado pelas crianças, não busquem entender o que se esconde por trás
daqueles traços produzidos, tão pouco se preocupam em saber que relação afetiva
existe entre o desenho e a criança.
No entanto é possível notar quando a
obra é ou não da criança, assim como coloca Meredieu, 1974: [...] Como se não soubéssemos até que ponto a
criança é condicionada pelo meio, ao falar da espontaneidade do desenho
infantil.
Falamos muito sobre o universo
infantil no qual, durante muito tempo, a criança era vista como “pequenos
adultos” e sua arte considerada fracasso.
Fracasso porque não se buscava olhar
para os progressos, que até então se fazia presente nas crianças e oculto para
os adultos.
Buscava-se criar futuros grandes
artistas, portanto era fundamental que o desenho se aproximasse do real.
A frase de Picasso que diz “Antes eu
desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a
desenhar como as crianças,” comprova-nos que muito temos para aprender com as
crianças e muitos outros artistas buscaram entender que noções, “técnicas“ e
outros dons se escondem na criança e como elas criam suas obras.
Quando a criança desenha, mesmo na
fase dos rabiscos (muita vezes circulares) no papel. Buscam representar o seu
mundo infantil e por ainda não terem construído um repertório de imagens e nem
desenvolvido a coordenação motora necessária para representar suas idéias
graficamente elas fazem da maneira que conseguem. O adulto ao ter contato com
estas produções precisa entender que a criança, muitas vezes, esta testando
hipóteses que vão construir formas gráficas que num segundo momento serão
usadas, ou não, para criar novos desenhos, essas marcas possuem valores que a
criança transmite e daí a grande importância de o adulto encorajá-la a
continuar desenhando a fim de progredir no desenvolvimento de suas técnicas e
maneira de fazê-los. De acordo com Moreira:
A criança pequena desenha pelo prazer do
gesto, pelo prazer de produzir uma marca. É um jogo de exercício que a criança
repete muitas vezes para certificar-se do seu domínio sobre aquele movimento.
Para muitos adultos isso é pouco, mas
se olharmos para o processo de desenvolvimento destes desenhos será possível
perceber o quanto esta fase é importante e revela passos do desenvolvimento da
criança.
Infelizmente quando a criança entra no
processo de alfabetização a necessidade da escrita imposta pela escola é tão
forte que acaba diminuindo o espaço do desenho e, muitas vezes, o resultado
disto é crianças que dizem não saber desenhar, a motivação não existe mais e
quando crescem se tornam os adultos que não gostam mais de desenhar, ainda de
acordo com Moreira:
Muito
depressa o desenho- fala se clã, e do desenho- certeza se passa a certeza de
não saber desenhar. É muito comum ouvirmos crianças de menos de 10 anos dizerem
que não sabem desenhar.
Em
poucos anos, o que era uma certeza, algo tão inquestionável como correr e jogar
bola parece algo inacessível próprio apenas de artista.
(1993,
p 51 e 52)
Sabemos que existe aulas de artes para estas
crianças e na escola a qual fiz a coletas dos dados que serão analisados mais a
frente, são duas aulas de artes semanais com um professor especialista e uma
aula semanal com o professor polivalente, no entanto estas aulas nem sempre
conseguem preencher a lacuna que distancia a criança da vontade de desenhar. O
professor se dedica tanto em saber como pode aprimorar sua prática de
alfabetização, que acaba não sabendo como conduzir suas aulas de artes. E o
professor especialista parece se acomodar diante dos modelos de aulas que já
possui não se interessando em inovar, de acordo com Tatit:
[...] Diante da urgência de planejar
suas aulas (o professor) acaba por ver-se obrigado a repetir atividades muitas
vezes já cansativas para os alunos ou optar por deixá-los livres para fazer o
que quiserem o que resulta frequentemente numa experiência vazia.
(2003, pag. 1)
Quando existe um tempo dedicado á
arte, ao desenho, este momento vem com regras e modelos “esteticamente
corretos”.
E como muitos alunos não conseguem
alcançar a “estética desejável” o professor pensa não ser relevante propor
diversas situações de desenho e pintura. De acordo com Graciano
Um professor que sabe
o que esperar do desenho de seus alunos, nas diferentes fases de seu
desenvolvimento, tem mais chances de propor atividades significativas para
eles, com menores riscos de esperar resultados que os alunos não podem realizar.
(2007, p.4).
Assim as propostas devem ser pensadas
de forma a contribuir para que os alunos consigam vivenciar diferentes formas
de fazer desenhos, com diferentes materiais em diversas superfícies identificando
quais são apropriadas de acordo com suas vivencias.
Muitas das crianças que entram na sala
de aula do primeiro ano encontram-se no nível pré-silábico[1] do
processo de alfabetização e assim é comum que em seus trabalhos misturem-se
letras e desenhos já esquematizados, pois mesmo diante da pressão ao ato de aprender a
ler e escrever feita pela escola, ainda existe na criança o prazer pelo
desenho, pois ainda neste inicio a criança utiliza as imagens para fazer a
leitura do mundo que a cerca, segundo Grossi:
Antes
que a criança compreenda a possibilidade de que as letras possam ter algum
vinculo com a expressão de alguma realidade, isto é, que as letras possam dizer
algo, ela faz experiências de ler a realidade em desenhos, gravuras e fotos, ou
seja, em imagens gráficas.
(1990,
p. 33)
Para saber entender a arte das
crianças é importante conhecer os estágios do desenvolvimento gráfico que são
nomeados “garatuja, garatuja circular, pré-esquema, esquema e realismo”, que
irei aprofundar em outro capitulo partindo da análise dos dados coletados.
É preciso entender esse
desenvolvimento, não apenas para criticar o desenho das crianças nem tão pouco
classificá-los como fracasso; cada novo traçado representa uma enorme conquista
para elas e é de muito valor.
E quando tem a oportunidade de
comparar as bolinhas feitas há muito tempo atrás com o boneco que vai
representar a mãe, o pai, etc, às crianças ficam ainda mais felizes em perceber
seu progresso.
Precisamos trazer sim pinturas e
histórias de grandes artistas, mas não com o intuito de fazer com que as
crianças sejam copistas das obras e sim que possam ampliar seus conhecimentos
artísticos.
Para
tanto, cabe ao professor ter clareza do que pretende fazer ao trazer para os
alunos obras dos mais diversos artistas, bem como aproximar os alunos da vida
do artistas fazendo com que os alunos possam estabelecer comparaes sobre o
diferentes modos de desenhar, pintar e a forma de vida do momento em que o
trabalho dos artistas eram realizados.
Para
isso Tatit esclarece que:
Assim como realçamos a importância de o professor já ter executado os exercícios antes de propô-los, também nessa atividade ele deve se preparar adequadamente, sobretudo
pesquisando sobre o artista, e sua obra, que abordará em aula, localizando os contextos histórico, social, político e artístico com os quais ele se relaciona, para ter subsídios para uma discussãoo proveitosa.
(2003, p. 6)
Entendemos assim que aula de artes, como as
demais,
necessita de planejamento, devendo
levar em consideração
os avanços
dos alunos, visando uma
avaliação processual e os alunos devem ser comparados com eles
mesmo, cada um olhando os progressos de suas próprias atividades.
Ainda
hoje existem professores que insistem em avaliar os desenhos produzidos pelas
crianças, como certos e errados, esta atitude, no entanto tem feito com que
muitos alunos se achem incapazes de produzir desenhos e consequentemente percam
a vontade de desenhar.