quinta-feira, 26 de janeiro de 2012



O desenho infantil é um tema abordado em muitos estudos, ao longo dos últimos anos, em função de sua importância.
Existem muitos trabalhos e livros que buscam direcionar o trabalho do professor para uma prática que melhor desenvolva as habilidades artísticas dos alunos bem como o gosto pela arte.
Segundo Galvão

Toda criança desenha. Mesmo que não seja adequadamente instrumentada para tal, a criança pequena quase sempre encontra uma maneira de deixar, nas superfícies, o registro de seus gestos: se não tiver papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo na parede de casa; se não tiver lápis, serve um pedaço de tijolo, uma pedra, ou uma lasca de carvão. (1992, p. 53).


Apenas saber que o ato de desenhar é importante, não basta. Além disso, o professor precisa entender quais propostas são mais adequadas para a faixa etária com que trabalha, quais materiais devem ser usados, como o desenho pode ser requisitado nas diferentes situações ocorridas na sala de aula e principalmente que o registro produzido é fruto do momento vivido pelo aluno, de acordo com suas vivências, repertórios e oportunidades de expressão.
Para que possamos compreender melhor, como o professor poderá fazer com que suas aulas de artes caminhem paralelamente com suas demais aulas, apresento a seguir algumas ideias e teorias que auxiliarão no conhecimento do processo de desenvolvimento da arte na criança de 6 anos.
Ainda que os primeiros rabiscos feitos pela criança pareçam aos olhos dos adultos, algo insignificante, sem sentido e feito sem noção, é importante entender que toda criança está em processo de desenvolvimento e que estes rabiscos são feitos com a intenção de explorar os materiais oferecidos e é por meio desta exploração que suas marcas vão ganhando formas e mais tarde serão possíveis de serem identificadas: casa, sol, carro, etc.
Segundo Lowenfeld:
À medida que a criança cresce, já não se satisfaz com a simples e fictícia relação entre seu pensamento imagístico e o que desenha ou pinta.
(1954, p.107)
Geralmente as crianças de seis anos buscam fazer seus desenhos e pinturas de maneira que se aproximem do real. Esta busca, no entanto, pode ser angustiante e frustrante, pois à medida que tenta representar algum desenho observado e por não conseguir se aproximar do que observou, a criança acaba incorporando o discurso de “Não sei desenhar”. Muitas vezes este discurso é alimentado na fala de muitos professores que cobram dessas crianças, desenhos que não pareçam ser produzidos pelas mesmas.
O contato com diferentes materiais para realizarem seus desenhos, pinturas e a apreciação de outras produções artísticas, tanto de artistas renomados como dos próprios colegas, podem contribuir com o desenvolvimento das habilidades artísticas, pois assim os alunos têm a possibilidade de ampliar suas ideias ao começar um novo desenho ou pintura.
Hoje em dia por mais que falamos sobre a importância de deixarmos às crianças explorarem o mundo artístico, deixarem suas marcas no papel etc, notamos que quando é feita a exposição de alguns desenhos feitos pelas crianças, este precisa ter uma “estética” que chame a atenção dos apreciadores e isso faz com que muitos professores não aceitem o desenho criado pelas crianças, não busquem entender o que se esconde por trás daqueles traços produzidos, tão pouco se preocupam em saber que relação afetiva existe entre o desenho e a criança.
No entanto é possível notar quando a obra é ou não da criança, assim como coloca Meredieu, 1974: [...] Como se não soubéssemos até que ponto a criança é condicionada pelo meio, ao falar da espontaneidade do desenho infantil.
Falamos muito sobre o universo infantil no qual, durante muito tempo, a criança era vista como “pequenos adultos” e sua arte considerada fracasso.
Fracasso porque não se buscava olhar para os progressos, que até então se fazia presente nas crianças e oculto para os adultos.
Buscava-se criar futuros grandes artistas, portanto era fundamental que o desenho se aproximasse do real.
A frase de Picasso que diz “Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças,” comprova-nos que muito temos para aprender com as crianças e muitos outros artistas buscaram entender que noções, “técnicas“ e outros dons se escondem na criança e como elas criam suas obras.
Quando a criança desenha, mesmo na fase dos rabiscos (muita vezes circulares) no papel. Buscam representar o seu mundo infantil e por ainda não terem construído um repertório de imagens e nem desenvolvido a coordenação motora necessária para representar suas idéias graficamente elas fazem da maneira que conseguem. O adulto ao ter contato com estas produções precisa entender que a criança, muitas vezes, esta testando hipóteses que vão construir formas gráficas que num segundo momento serão usadas, ou não, para criar novos desenhos, essas marcas possuem valores que a criança transmite e daí a grande importância de o adulto encorajá-la a continuar desenhando a fim de progredir no desenvolvimento de suas técnicas e maneira de fazê-los. De acordo com Moreira:
A criança pequena desenha pelo prazer do gesto, pelo prazer de produzir uma marca. É um jogo de exercício que a criança repete muitas vezes para certificar-se do seu domínio sobre aquele movimento.
Para muitos adultos isso é pouco, mas se olharmos para o processo de desenvolvimento destes desenhos será possível perceber o quanto esta fase é importante e revela passos do desenvolvimento da criança.
Infelizmente quando a criança entra no processo de alfabetização a necessidade da escrita imposta pela escola é tão forte que acaba diminuindo o espaço do desenho e, muitas vezes, o resultado disto é crianças que dizem não saber desenhar, a motivação não existe mais e quando crescem se tornam os adultos que não gostam mais de desenhar, ainda de acordo com Moreira:

Muito depressa o desenho- fala se clã, e do desenho- certeza se passa a certeza de não saber desenhar. É muito comum ouvirmos crianças de menos de 10 anos dizerem que não sabem desenhar.
Em poucos anos, o que era uma certeza, algo tão inquestionável como correr e jogar bola parece algo inacessível próprio apenas de artista.
(1993, p 51 e 52)

 Sabemos que existe aulas de artes para estas crianças e na escola a qual fiz a coletas dos dados que serão analisados mais a frente, são duas aulas de artes semanais com um professor especialista e uma aula semanal com o professor polivalente, no entanto estas aulas nem sempre conseguem preencher a lacuna que distancia a criança da vontade de desenhar. O professor se dedica tanto em saber como pode aprimorar sua prática de alfabetização, que acaba não sabendo como conduzir suas aulas de artes. E o professor especialista parece se acomodar diante dos modelos de aulas que já possui não se interessando em inovar, de acordo com Tatit:
[...] Diante da urgência de planejar suas aulas (o professor) acaba por ver-se obrigado a repetir atividades muitas vezes já cansativas para os alunos ou optar por deixá-los livres para fazer o que quiserem o que resulta frequentemente numa experiência vazia.
(2003, pag. 1)

Quando existe um tempo dedicado á arte, ao desenho, este momento vem com regras e modelos “esteticamente corretos”.
E como muitos alunos não conseguem alcançar a “estética desejável” o professor pensa não ser relevante propor diversas situações de desenho e pintura. De acordo com Graciano

Um professor que sabe o que esperar do desenho de seus alunos, nas diferentes fases de seu desenvolvimento, tem mais chances de propor atividades significativas para eles, com menores riscos de esperar resultados que os alunos não podem realizar.
(2007, p.4).

Assim as propostas devem ser pensadas de forma a contribuir para que os alunos consigam vivenciar diferentes formas de fazer desenhos, com diferentes materiais em diversas superfícies identificando quais são apropriadas de acordo com suas vivencias.
Muitas das crianças que entram na sala de aula do primeiro ano encontram-se no nível pré-silábico[1] do processo de alfabetização e assim é comum que em seus trabalhos misturem-se letras e desenhos já esquematizados, pois  mesmo diante da pressão ao ato de aprender a ler e escrever feita pela escola, ainda existe na criança o prazer pelo desenho, pois ainda neste inicio a criança utiliza as imagens para fazer a leitura do mundo que a cerca, segundo Grossi:

Antes que a criança compreenda a possibilidade de que as letras possam ter algum vinculo com a expressão de alguma realidade, isto é, que as letras possam dizer algo, ela faz experiências de ler a realidade em desenhos, gravuras e fotos, ou seja, em imagens gráficas.
(1990, p. 33)

Para saber entender a arte das crianças é importante conhecer os estágios do desenvolvimento gráfico que são nomeados “garatuja, garatuja circular, pré-esquema, esquema e realismo”, que irei aprofundar em outro capitulo partindo da análise dos dados coletados.
É preciso entender esse desenvolvimento, não apenas para criticar o desenho das crianças nem tão pouco classificá-los como fracasso; cada novo traçado representa uma enorme conquista para elas e é de muito valor.
E quando tem a oportunidade de comparar as bolinhas feitas há muito tempo atrás com o boneco que vai representar a mãe, o pai, etc, às crianças ficam ainda mais felizes em perceber seu progresso.
Precisamos trazer sim pinturas e histórias de grandes artistas, mas não com o intuito de fazer com que as crianças sejam copistas das obras e sim que possam ampliar seus conhecimentos artísticos.
Para tanto, cabe ao professor ter clareza do que pretende fazer ao trazer para os alunos obras dos mais diversos artistas, bem como aproximar os alunos da vida do artistas fazendo com que os alunos possam estabelecer comparaes sobre o diferentes modos de desenhar, pintar e a forma de vida do momento em que o trabalho dos artistas eram realizados.
Para isso Tatit esclarece que:


Assim como realçamos a importância de o professor já ter  executado os exercícios antes de propô-los, também nessa atividade ele deve se preparar adequadamente, sobretudo pesquisando sobre o artista, e sua obra, que abordará em aula, localizando os contextos histórico, social, político e artístico com os quais ele se relaciona, para ter subsídios para uma discussãoo proveitosa.
(2003, p. 6)

Entendemos assim que aula de artes, como as demais, necessita de planejamento, devendo levar em consideração os avanços dos alunos, visando uma avaliação processual e os alunos devem ser comparados com eles mesmo, cada um olhando os progressos de suas próprias atividades.
Ainda hoje existem professores que insistem em avaliar os desenhos produzidos pelas crianças, como certos e errados, esta atitude, no entanto tem feito com que muitos alunos se achem incapazes de produzir desenhos e consequentemente percam a vontade de desenhar.



[1] O Pré- silábico é o primeiro dos quatro níveis defendidos por Emilia Ferreiro

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Olá amigos depois de algum tempo longe deste espaço, retorno Hoje dando continuidade ao nosso assunto anterior, o Desenho Infantil.
Depois de ler Ana Angélica A. Moreira, no livro “O espaço do desenho: a educação do educador” percebi que alguns pontos é necessário compartilhar com vocês aqui.



O texto,O DESENHO É LINGUAGEMescrito por Ana Angélica, mostra o quanto é importante ter um olhar atendo aos desenhos das crianças, o quanto se faz necessário aos educadores, ter a clareza de que assim como a linguagem escrita, o conceito de números, o desenho é uma construção que se desenvolve ao longo da vida, das vivencias das oportunidades.
Oportunidades essas que aos poucos vem sendo abolidas da nossa sociedade, que tanto tem se preocupado com a estética, com a melhor representação dos objetos, do mundo.
Não basta apenas saber que toda criança desenha é preciso entender que esse: “toda criança desenha” trás consigo a idéia de uma construção artística ou não, que precisa ser acolhida pelo adulto de maneira a fazer com essas crianças sintam-se a vontade para produzir desenhos que aos poucos vão ganhando novas formas, estruturas realismo.
Entender que os desenhos são os primeiros sinais de escrita (ou tentativa) produzidos pelas crianças, ajuda ao adulto saber, quais avanços têm os autores dos desenhos, qual período, conhecimento da vida possuem.
O desenho possibilita ainda saber muito sobre a criança, alegrias, tristezas, medos e outros sentimentos podem ser grafados nas superfícies, porém devemos tomar cuidado ao questionar a criança quanto o desenho feito.
A autora aborda ainda uma questão um tanto quanto atual, o momento que “o desenho linguagem se cala”, para tentar entender o porquê o desenho linguagem se cala para algumas crianças, lembremo-nos que todo o desenho é uma construção possível a partir de vivencias e oportunidades, aonde durante essa construção (no começo nem tanto) a criança vai sentindo a necessidade de ser fiel ao observado, imaginado ao que se esta desenhando.
E essa busca incansável pelo fiel, faz com que muitas crianças se angustiem pelo sentimento de fracasso e como se não bastasse, o olhar a postura de muitos professores frente aos desenhos destas crianças fazem com que tenham ainda mais convicção de que não sabem mais desenhar, a incapacidade ganha espaço, entra em cena e tira de muitos seres humanos o prazer e espontaneidade do desenho.
O adulto tem se colocado então como máquina destrutiva, de sonhos, oportunidades, de grandes artistas...
Um olhar incentivador para estas crianças pode ser o suficiente para que as crianças continuem a desenhar... para que o desenho linguagem continue a falar.